A vida, viver definhando, caindo; a morte, o cortar as correntes, a liberdade aclamada o cobiçado troféu, alma sem luz nem chama num cosmos de sombras. O meu âmago são pétalas, que são anos, que são sonhos, que são tudo aquilo que nunca fui nem serei; o meu sangue, veneno de víbora, antídoto dos felizes, dos tolos e de quem nunca amou ninguém. A minha sombra? Meu livre clarão, que ilumina o meu caminho, sombra do que devia e do que queria ser, guia meu caminho; marca o meu caminho com as mais negras pedras, que essas conhecem-me bem. Os meus pensamentos, uivos de lobo, gritos de velhos feiticeiros, que ecoam e não se deixam cair no esquecimento, subterfúgios de bandidos que só conhecem a lua como amiga e o vento como conselheiro.
Olho para o mundo, mirando no horizonte o meu eu que não encontro mais, contenho o meu fôlego em sinal de consternação por breves segundos; segundos que são horas, horas que são dias, e os dias, longos anos. A minha carne, a minha essência chora de ódio, juras de vingança, tudo aquilo que conheço como meu, clama de raiva e tudo aquilo que reconheço como meu nada de bom tem para dar, nunca mais. Todos os meus poros agoniam por vendeta, na vera matéria sou um embuste bem argumentado, um plágio de mim mesmo. As minhas acções nada mais definem, as minhas palavras nada mais revelam, o meu corpo não mais respira, não mais se alimenta, nada existiu posterior a mim, nada existe depois de mim.